segunda-feira, setembro 29, 2008

Do que é que vocês estão falando??

"A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre."

Oscar Wilde




Pronto. Auto-abandono. Hetero-abandono. O que vem agora? o que pode ser pior que abandonar a si próprio e o que está a nossa volta? Sim, porque isso nos faz adoecer... e adoencendo as partes (nós), adoecemos o mundo (o resto), e assim vamos vivendo num antro de doença (o que quer que isso signifique).
Deixemos de hipocrisia!! o que chamamos de vida real, mundo real, nos quais estamos imersos, talvez seja exatamente a distância que temos da verdadeira realidade.
Chamo de realidade a real realidade dos sonhadores. Dos pensadores. Daqueles que são "visionários", "avoados" e muitos outros termos pejorativos que recebemos(muitas vezes com sofrimento) ao longo da vida. Esses não se auto nem hetero-abandonaram, porque sua vida tem um brilho, um tempero, um toque extra que não a rotina automática avassaladora do "mundo real".
Ok. Vamos ver quem morre mais tarde. Mas que busquemos sempre identificar e atacar a doença, porque ela é muito maior...

quarta-feira, setembro 24, 2008

O que é que vocês estão olhando?

"Mas sempre serei como um garoto de dezesseis
Que sente estar no filme da sua vida
se acostuma com a dor, por achar que de qualquer forma terá...
um final feliz!"

Thiago Fonseca




A doença é muito maior. Ao depararmos com algum enfermo, seja um moribundo de cancer no hospital, seja um bebado na rua, seja um vizinho ciumento, ou um colega angustiado, geralmente não temos dimensão da extensão da doença. Nunca temos. Porque ela é muito, muito grande. Sempre maior e mais profunda.
Embora o brasileiro seja visto como alegre, festeiro e acolhedor, costumamos a reclamar da individualidade e da frieza da maioria dos nossos convivas. Não aparentam se preocupar com o humano ao seu lado, e sim com o papel social que o mesmo representa: o colega, o subordinado, o chefe, quem vende, quem compra, quem chega, quem liga, quem vai. Mas nunca a pessoa, nunca o em sí.
E se, por algum mecanismo escuso, alguma felicidade excepcional, conseguimos pular essa barreira, encontramos no próximo, normalmente, sólida fortaleza: não dispender energia com o humano ao lado implica que os mesmos não penetrem em nosso mundo para "bisbilhotar".
Pessoas "de bem", muitas vezes, são estereis para as pequenas luzes. Pouco espontâneas. Tudo ponderado, calculado, mesmo que ninguem pare pra fazer contas! Ora, ter a mentira soa mais confortavel que lutar pela verdade. Mais confortavel manter nossas pequenas e pálidas conquistas humanas que lutarmos por um mundo mais caloroso. E nada isso, embora bastante explorado pela literatuda de auto-ajuda, me parece tristeza.
Portanto, o auto-abandono inclui o hetero-abandono. Isso porque quem se ama, quem está confortável com isso e quem tem consciência do amor próprio, ama ao próximo. Porque antes de tudo ama a si mesmo. (É... acho que o J.C tinha razão).
Mantermos nossas conquistas, nossa energia humana, nosso calor, nossa humanidade represados por medo do individualismo competitivo humano é perda de tempo. Porque o que ganhamos em manter é infinitamente menor do que o que deixamos de ganhar em se abrir, mesmo que percamos ou esqueçamos algo no meio do caminho.
Dê bom dia ao seu vizinho. Ria à toa. Se interesse verdadeiramente pelas pessoas, mesmo que elas perguntem "o que é que você está olhando?". Você não precisa ser "inconveniente" pra isso. Elas estão acuadas. Prontas pra atacar. E doentes também.
Um dia descobriremos que sucesso no estudo, na profissão, na vida social e na conta bancária não consistem necessariamente em "vencer na vida". Vencer na vida é muito mais do que isso. E, por isso mesmo, mais fácil do que se possa imaginar. "A felicidade mora a seu lado, meu filho".
O que é que vocês estão olhando?

segunda-feira, setembro 22, 2008

Do que é que vocês estão rindo?

"Do que é que vocês estão rindo?
O que é que vocês estão olhando?
Do que é que vocês estão rindo?
O que é que vocês estão falando????"


Titãs - A verdadeira Mary Poppins




"Quanta gente louca, hein?". Tudo acontece em contexto, em conjunto, em junção de partes, diferentes a cada vez.
Assim sendo, acho que estamos com um grave problema de saúde pública. Não se trata de hipertensão arterial, tabagismo, alcoolismo, poluição. Não se trata de câncer, infarto e derrames. Não se trata de violência social e do uso de drogas. A saúde biológica, social, mental e espiritual são provocadas pelo auto-abandono.
Há varias formas de se abandonar, em diferentes graus. Fazemos isso todos os dias! A cada momento em que fraquejamos em algo, que fazemos algo que sabemos não dever fazer (e vice-versa), nos abandonamos.
Ok. Nada de errado comer aquele chocolate na dieta, ou não dar passagem a um idoso quando estamos com pressa. Temos o direito de errar. O problema é quando esse "abandono" com as pequenas e grandes obrigações da vida toma tal proporção que esquecemos quem somos, o que queremos, e para onde vamos. Passamos a viver como vegetais, robôs que acordam cedo, trabalham, fazem mercado, tomam uma cervejinha no fim de semana e dormem depois do jornal. Tornamo-nos automáticos, vazios de propósito e significado, ainda que sejamos os melhores funcionários da empresa.
Esse é o principal problema de saúde pública. Ao abandonarmos a nós mesmos, abandonamos a saude pessoal e a saúde do mundo. Inconcientemente, nada nos importa. Tomamos remédios por tomar. Compramos roupas por comprar. Trabalhamos "por obrigação". Gritamos com nossos filhos porque "faz parte". E vamos vivendo. E vamos morrendo. E finalmente morremos.
Devemos visar a retirada gradual da máscara, da armadura. O mundo é perigoso, vá lá. Mas não colocar a cabeça de fora é suicídio. Direcionar a energia, o poder criativo, a força transformadora presente em cada verdadeiro eu é o melhor caminho para abandonarmos o abandono (é o que chamo de eficiência espiritual).
O assunto é polêmico, e cada frase desse escrito poderia originar um livro. Contudo, uma coisa é certa: enquanto a medicina não se voltar para uma abordagem eficiente na profilaxia do abandono, cumprirá seu trabalho pela metade. Abandonado.