segunda-feira, agosto 18, 2008

Cuidado com o que toma! (versão 1.1)

Terça-feira. Farmácia. Caminho de casa. Intenção: comprar manteiga de cacau. Eis que um rapaz, ao meu lado, interpela um vendedor (ou balconista, sei lá)
- Queria um remédio
- Você tem receita?
- Não, é que sinto um negócio no estomago
Disse isso apontando a barriga; Onde fica mesmo o estômago? Permaneci de soslaio assistindo á cena. Eis que o vendedor pergunta:
- O que você sente?
- Ah... (hesitando) sei lá, um mal estar
- Então tenho o que você precisa
E perante à minha anônima e inexpressada indignação, típica de um médico recém-formado, o vendedor leva o cliente-"Paciente" a uma prateleira. Observa, pondera, analisa e, por fim, retira 3 medicamentos diferentes.
- Esse é bom para o estômago, esse pra nausea e esse pro fígado
- Pro figado?
- É. Esse gosto ruim que voce sente na boca é coisa de figado. Pode levar que é tiro e queda!!
- Que bom! Por quanto fica?
- Deixa ver... (puxou a calculadora...) com o desconto, fica 22 reais (!)

...

A duração da cena, essa que acabei de descrever, foi 9 minutos. Isso mesmo. Entrei na farmácia às 19:14, às 19:15 me tornei assistente acidental dessa "consulta". Às 19:23 o cliente-"paciente" estava no caixa, pagando a "consulta" e a medicação.
Desanimado, esqueci a manteiga e fui para casa, pensamentos a mil. De que vale uma receita médica? de que vale uma consulta médica? seriam as consultas-de-balcão-de-farmácia e as consultas médicas-de-verdade extremos de um continuum entre o conhecimento médico-científico sistemático e o conhecimento "médico"-popular? De que vale um médico estudar pra caramba durante 6 anos, perder noites, e ainda passar pelo menos 2 anos se especializando, se o próprío paciente e o balconista da farmácia (polos extremos da escalada comercial desde que alguem resolve achar que tem um sintoma), se "entendem" em 9 minutos?
Entristecido com o destino da minha profissão, fui dormir pensando no próximo dia de trabalho, recheado de consultas.