segunda-feira, abril 21, 2008

Consultório psiquiátrico - Baseado em fatos reais (9)

"Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz!"

Clarice Lispector



A vida em flashes verbais

(Reflexões interconsultas): Para tornar inteligível, decifrável, transmissível, objetivo e científico a mente humana, precisamos transformá-la em algo racional, lógico e temporal. Esta é a tentativa da psicopatologia e de inúmeras outras ciências e filosofias da mente. Grosso modo, claro.
Como seria se tentássemos por em palavras nossas experiências do mesmo jeito ilógico, irracional e atemporal que elas se nos apresenta? Fiz uma tentativa. Cronológica pelo menos.


1982 – Segundo a minha mãe e os documentos que a que fui sendo apresentado ao longo da vida, este é meu ano de nascimento. Não tenho, obviamente, razões para duvidar.

1983 – “Vamos entrar, que já vai chover e seu pai está chegando”. Nossa... ainda assim pude perceber o quão verde eram as folhas das árvores e quão amarelos eram os azulejos da escada que nos conduzia à cozinha da casa, pela área externa. Acho que nem andava. Ou corria.

1984 – “Vamos garotão... para de pilotar esses pneus que a kombi vai lhe levar em casa”. E levou mesmo. Ao derredor, mato, árvores e trilhas ao longe. “Thiago, não pisa no banheiro que a empregada acabou de lavar”.

1986 – “Thiago! Você não pode com essas tintas... venha pra cá com seus colegas queimar a cera”. E do lado de fora a outra turma se acabava no pula-pula, do qual eu morria de medo e ninguem sabia. No topo da escada branca havia um jardim, um depósito e uma piscina. E a professora Sônia estava em todo lugar.

1987 – “Meu filho! Sua escola tem um parque imenso...”. E havia chegado atrasado. E quantas janelas altas! “seus primos estudam ai”. Conheci a “Madá”, o “Buís” e o “Mário”. E a professora Cida, cujo nome haveria de rotular uma cadela. Mais adiante.

1988 – “Que dia é hoje?” falou-me com a mão cheia de dinheiro. “Sexta-feira!!” Era o dia de comprar lanche na barraquinha depois da aula. Ahahahahahahahah

1989 – “Hoje nós não vamos fazer quase nada, porque é nosso primeiro dia de aula”. Olhei para o estojo azul (nossa, poderia desenhar se tivesse essa habilidade...), via a caneta BIC que sabia ser desnecessária nessa série e pensei: “quantos anos ela deve ter?” Pelos menos o estojo me supria de tudo. Ah, a mochila preta custou onze mil (cruzeiros? Cruzados? Etc?)

1990 – “Xí, a Argentina fez um gol”. E Taffarel estava lá no chão. Nunca gostei dele. Mas Jaspion e o Atari me esperavam, e a diversão estava garantida.

1992 – Retrospectivo: “Maior ventura que poderia desejar em minha pretensa vida de 105 anos”. Ahahaha... como se esconder de si, se nem sabia onde estava? Phantasy star no master!!

1993 – “Acho que os meninos falharam um pouco”. E após ter feito meu desabafo público em plena sala de aula pré-adolescente, foi tudo que ela disse a respeito. Em 180 dias letivos. E nunca mais me viu.

1994 – Ponto de fusão “um claro assim não será por mal algum”. E meu xará Thiago Fonseca, que conheceria 5 anos depois, já resumia minha vida. Claramente confusa, sem explicação. E dá-lhe EC Bahia!!

1995 – Adriana Calcanhoto. Esquadros. Sonho de desodorante fã. Megalomania reativa adolescente. Ah..., e estava pra começar a segunda maior ventura.

1996 – Conheci a informática, os Arquivos X e muito dos meus amigos pra toda a vida.

1997 – “Não me conformo”. Não tinha vocabulário nem ordem de pensamento para saber exatamente contra o quê. Mas pelo menos aprendi a arranhar o violão. E seria o segundo Phantasy Star de minha vida.

1998 – Ah... paragens ao meio dia! Vence-te para ter paz. E então fez-se a luz...

1999 – “Alguma consciência política você precisa ter meu filho”. E despertou o desejo de consertar os erros, e de fazer o que é certo. E que luta!

2000 – “Rapaz, você foi com muita sede ao pote...” E não era pra ser assim?? Não, não era. E a marca foi funda, a ferida foi forte, e o sangue gerou frutos. Qual a hora certa de colhê-los?

2001 – Retornemos 9 anos. Ainda não aprendeu a lição? Aprenda, porque você vai ser médico!!

2002 – Aprendi que a dialética da vida é infalível, e passei a ter fé em alguma coisa que não conhecia direito nem tinha nome. “I can’t drive, because I am european”. Ahahahah...

2003 – E naquele abafado domingo, na praia de buracão: “você está da ACME”. Muitas saudades, mas já passou e mudou. Mas continua igual.

2004 – “Será que irei casar algum dia???”- hehehe – ACHO QUE SIM.

2005 – “Você é o medico da clínica não é??” era?? “quando voltar por essa trilha, serei outro homem”.

2006 – “Você vai querer que esse dia nunca acabe. Mas vai acabar”

2007 – “Que tipo de pessoa você vai se tornar?”. E a mesa branca indicou o caminho. Antenas seguem até o fim.

2008 – “Lá faz muito frio, leve agasalho hein!!” AHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA


Meu Deus, aonde esse calendário vai me levar???

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