segunda-feira, março 10, 2008

Consultório psiquiátrico - Baseado em fatos reais (3)

"Vejamos... Estou vivendo apressado ou é a pressa que vive em mim?
O que é a vida senão algo para matar, ou manter, ou comprar, ou perder, ou viver?
Preciso ir mais rápido! manter o ritmo...
apenas para continuar um ser humano"


Brett Gurewitz



Pensamentos atípicos, doenças atípicas, dias atípicos! o que dizer da atipicidade da infrequência se a boa frequência é relativa a quem a espera?
Bem... abrí a porta do consultório.
Um consutório psiquiátrico... Ah! um consultório psiquiátrico, em seu papel e simbologia, é fonte dos mais controversos e intrincados debates e opiniões...
Não deveria.
Não deveria porque sua finalidade é utilizar o conhecimento científico vigente na medicina e em áreas correlatas para tratar o adoecimento mental do ser humano, em sua acepção mais ampla. Muitas vezes, por motivos diversos, acaba não o fazendo nesta acepção. E ai nasce a polêmica. Nascem as dúvidas. Nascem os monstros. Nascem os preconceitos contra os psiquiatras e os doentes mentais. Nascem os pósconceitos sob ação dos inadvertidamente apaixonados... e quem sai perdendo é a humanidade. Sempre saiu.
Toc, toc, toc! (alguem batendo?)
Deixando mometaneamente de lado tais divagações filosóficas (as quais me consumiam o tempo entre abrir a porta do consultório e acomodar meu paciente e seu acompanhante em suas cadeiras), voltei-me para as duas personas que estavam, agora, diante da minha mesa.
- Como estão vocês?
- Estamos bem.
(Eis o diálogo introdutório de qualquer consulta a qualquer consultório ou balcão da vida. Quer dizer: "Pretendo ser símpático com você em nossa breve conversa se, e somente se, é claro, você(s) tiver(em) a mesma pretenção")
- Sentem-se por favor. O que os traz aqui?
- Doutor, é uma história muito loca
Ri por dentro. Lidar com pessoas espontâneas me deixava mais à vontade para, em primeira instância, cumprir meu papel profissional-acadêmico e, em última instância, ajudar o paciente. Então, juntando toda a pseudo-autoridade que pude reunir naquele momento, disse:
- Loucura não existe. Mas pode falar mesmo assim.
- Meu problema é TOC.


...


TOC (transtorno obssessivo-compulsivo) é uma patologia psiquiátrica relativamente incomum, embora de grande impacto pessoal e social, com desdobramentos simbólicos, nas artes, na cultura e na mídia. A pessoa, súbita ou gradualmente, passa a ser acometida por pensamentos recorrentes e intrusivos (obssessivos) que podem leva-las ou não a atitudes ritualísticas de desdobramentos individuais virtualmente infinitos (compulsivo). O indivíduo têm consciência e crítica sobre tais atos e pensamentos, o que em geral leva a grande sofrimento psíquico, social e fisiológico.
Arrisco-me a dizer, em off, que todos nós temos traços de TOC. O aparelho psíquico do ser humano é, como a luz de uma lâmpada (que simboliza, nesse caso, o corpo), um continuum de emoções, vivências, matrizes e toda a terminologia que a filosofia, a psicologia e a medicina criaram. E todos sabem (até mesmo porquê nunca esteve tão em voga) que a "ansiedade" e a "depressão" são onipresentes em nossa cantada modernidade.
TOC é um chamado transtorno de ansiedade. Ansiedade onipresente, traços de TOC onipresentes. Não temamos. Mesmo que tais sintomas sejam por acaso excepcionalmente proeminentes em alguem, não requerem tratamento se não há prejuizo pessoal e social para o indivíduo, para as pessoas com quem convive e para com a sociedade. Nesse caso, não se trata de doença. Mas... como avaliar tudo isso, para cada caso, com boa dose de segurança? Seria válido deixar tal incumbência a cargo do propalado bom senso?
Isso também é psiquiatria! portanto, voltemos ao consultório!


...


- Doutor, minha doença tem cura?


Aguardem as cenas do próximo capítulo!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial