quinta-feira, junho 14, 2007

Sobre 2 em 1

Pode parecer redundante tocar em assunto por demais debatido em salas acadêmicas, universidades, salas de estar e pontos de ônibus. Estamos realmente sendo enganados pela mídia, ser manipulador (e etc, etc, etc) que nos compele, cotidianamente, compulsivamente, inconscientemente, a consumir mais determinados produtos, em maior variedade de circunstâncias, que outros?
Considerando a vasta gama de conhecimentos específicos necessárias para o molde de uma resposta satisfatória, torna-se difícil responder. O senso comum e a ciência vulgar indicam que sim... mas não é exatamente sobre isso que trata o presente texto, cuja introdução aqui nos faltaria se o assunto tratado a ela não se referisse diretamente.
Bom... tudo começou com um banho. Pensando bem, na verdade tudo começou começou com meu salário. Dentre inúmeras tentativas de reduzir o gasto mensal com supérfluos higiênicos, cortando papeis higiênicos vitaminados e escovas de dentes pré-aprovadas, adquiri nas Lojas Bompreço um exemplar de um shampoo, ou shampoo/condicionador, do tipo “2 em 1”, da marca Pantene. Pouco me importava que a marca Pantene me oferecesse o “famoso” fator PRÓ-V (que propiciaria a uma boa hidratação revitalizante e boa nutrição) e boa reparação dos cabelos ressecados ou danificados. Tal era o grupo, classe ou ordem taxonômica capilar de seres humanos às quais o frasco se oferecia acintosamente.
Ninguém me ensinou como classificar meu tipo de cabelo. Quais as classes de cabelo que o consumidor deve encaixar-se? É a mesma para homens e mulheres? Onde adquirir este conhecimento? Deveria ter estudado mais na escola? Deveria transformar o papo passatempo com os cabeleleiros em aulas de shampoo? Deveria ser um "WebSurfer" mais curioso? Minha namorada sabe? Será que se meu cabelo não for seco ou danificado o shampoo não terá utilidade, tendo eu desperdiçado a quantia que tanto tentava economizar? Ou será que PANTENE informaria diretamente ao consumidor, numa consulta capilar via fone não presencial?
Ok, ok... não nos preocupemos com problema tão pequeno. Afinal, estampado vitoriosamente em sua embalagem, meu novo shampoo-condicionador possui nova formula, a qual provavelmente, segundo meu raciocínio leigo em taxonomia capilar e em shampoos-condicionadores (é assim que se escreve?), reduziria tal dúvida a uma escala insignificante na prática, onde qualquer dano a meu cabelo, no caso de ocorrer, teria efeito mínimo.
Raios!... como é ruim ser ignorante... numa simples embalagem de um produto cuja finalidade individual-circunstancial é de natureza essencialmente monetária, me deparo com um verdadeiro teste sutil sobre a ciência capilar!... talvez devesse estudar um pouco de dermatologia (medicina antes, claro), bioquímica (hummm... uma faculdade de química no currículo viria bem a calhar), classificação científica dos cabelos, classificação estética dos cabelos, nutrição capilar, ou.... interpretação de texto. Talvez soasse mais correto se tivesse em mãos uma prescrição médica do produto mais adequado. Não sei.
Tempestade em copo d’água? Talvez... se não fosse um ultimo detalhe no outro lado da embalagem.
Adquirida a polêmica marca culpada de verdadeira tempestade interior de questionamentos capilares, parti para práxis da questão... meu saudoso (!) e gostoso banho de fim de tarde! Se aceitei ceder meu couro cabeludo a produto tão criterioso na escolha de seu alvo de atuação, deveria eu certamente conhecer as melhores manobras da operação prestes a ser "realizada com sucesso".
“Aplique o shampoo sobre o cabelo molhado (!?). Massageie o couro cabeludo com as pontas dos dedos de forma circular e espalhe espuma até a ponta dos cabelos. Enxágüe e... repita a operação se necessário”.
Repetir a operação? ah não.
Como saber se é necessário repetir a operação? Quais os critérios para classificar a operação PANTENE lava cabelo em “aceitável” ou “não aceitável – repetir”? seria mesmo a intenção do fabricante uma lavagem aceitável? bom, em algum lugar de toda essa história de vida, de estudos não realizados, conversas não levadas a cabo, de passos escusos pela caminhada higiênica capilar, me indicaram um caminho errado.
Pensei de cabeça limpa: logo eu vou saber se é necessário repetir ou não? Voltamos à mesma conclusão de ponto-de-ônibus do início do texto: fui enganado! Devo, claro, por via das dúvidas, repetir a operação “infinitas vezes enquanto durar meu dinheiro” (parodiando um poeta carente de fios capilares).
PANTENE outra vez!

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Bozo,
você só pode ser doido...que indagações são essas pessoa?!?!!?
Nunca tinha parado pra pensar nisso,talvez pq seja mulher e saiba o que tudo isso significa, ou talvez pq tmb não reparo nessas coisas...!
Enfim...tenho muito o que aprender com vc...
texto massa!

Bjus

4:17 AM  
Blogger Thiago Fonseca disse...

Rapaz, tinha tempos que não lia um texto tão saboroso e cômico, leve, inteligente, e tantas outras classificações que nunca poderão dar conta de tanta sutileza e precisão cobertos de ironias inteligentes e notas tão curiosas.

"papeis higiênicos vitaminados"

aeuhauehae

caralho, lembro de meu pai irratadíssimo ao ler na embalagem de uns desses papéis: "com vitamina E"

Lembro que ele disse:

"Desde quando meu cu precisa de Vitamina E"

aeuheauheauhea

Na moral bozo, genial esse texto!!!

10:40 AM  
Blogger iza disse...

Otimo texto Thiago , adorei !! Dei muita risada com seus pensamentos e indagacoes. Bjs

10:01 AM  

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