sábado, março 15, 2008

Consultório psiquiátrico - Baseado em fatos reais (4)

“Os pensamentos são como cavalos selvagens,
é preciso domá-los para a saúde do espírito.”


Thiago Fonseca



- Doutor, minha doença tem cura?

O que é a cura? Em um extremo, imaginamos a cura como o cessar definitivo da existência de um mal que outrora nos molestava. Trata-se de uma visão objetiva do processo(do tipo exisite ou não-existe).
Em outro extremo, em um patamar subjetivo, há quem enxergue a cura de uma moléstia quando a mesma deixa de lhe trazer prejuizos significativos nas esferas pessoal, social e familiar.
No meio termo, entre o extremo objetivo e subjetivo, existem infinitas gradações, com infinitas nomenclaturas, de infinitas áreas, com infinitas acepções, explicações e inferências, que em geral não interessam a muita gente...
Na medicina em geral, e na psiquiatria, em particular, utiliza-se, no contexto da fidelidade acadêmica e científica, a primeira definição de cura: "A doença não existe mais, e tem pouca chance de retornar. Logo você está curado". Assim ocorre com boa parte das infecções e dos cânceres considerados curáveis.
Existem, por outro lado, as doenças não curáveis, mas passivas de controle, seja dos seus fatores de risco, seja da sua evolução. O médico leva em conta, neste importante momento de avaliação, diversos fatores e variáveis, uns mais ou menos objetivos que outros. Aliás, é pra isso que ele exsite.
Nesse contexto se encaixam a maioria das doenças psiquiátricas. Na doença mental não há uma etiologia definida, bem como não há cura, na maioria dos casos. Contudo, com frequência, o mal psiquiátrico pode ser controlado de maneira que o paciente possa levar uma vida normal, trabalhando, estudando, se relacionando bem com a família, o sexo oposto e com a sociedade em geral. Há quem considere isso uma cura, mas uma cura já como parte de uma discussão que foge aos escopos da nossa ciência.
Mas quem disse que é a ciência que tem que dar a palavra final? Cîência não opina sobre o que é bom senso, tampouco o define. Ciência tradicional não leva em consideração a cura subjetiva (na prática o objetivo de todos os pacientes). Eu, Thiago, convivo pacificamente com minha asma brônquica, rinite alérgica, pitiríase versicolor, sindrome de Gilbert, alopécia familiar, psoríase, pé cavo, dislipidemia, sobrepeso (e talvez outras doenças)!! Na maior parte do tempo, nem lembro que eles existem e, com exceção da dislipidemia, sei que elas muito dificilmente atrapalhariam minha vida, minha saúde, meu trabalho, meu relacionamento com as pessoas e com o mundo. Aliás, não atrapalham, e todos me consideram uma pessoa saudável. Logo, embora a ciencia médica facilmente confirme a presença de tais em meu corpo, delas me sinto curado. Curadasso!!
Como passar essas informações para os pacientes, sem ser mal compreendido? bem... voltei a meu consultório...

...

- Sim, sua doença tem cura. Mas isso é uma longa conversa...

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial